A raiva não educa: A calma educa - Resenha crítica - Maya Eigenmann
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A raiva não educa: A calma educa - resenha crítica

A raiva não educa: A calma educa Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Parentalidade

Este microbook é uma resenha crítica da obra: 

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-65-5566-264-1

Editora: Astral Cultural

Resenha crítica

O que é Educação Respeitosa?

Para a autora, o resultado de uma boa educação não é percebido pelo comportamento das crianças, mas pelo dos adultos. Por isso, é responsabilidade dos adultos desenvolverem ferramentas para fazer com que as crianças se comportem melhor. A autora acredita que existe uma resistência na sociedade em ver as crianças como seres humanos, tão importantes quanto os adultos.

São pesos e medidas diferentes. Bater em um adulto, por exemplo, é uma atitude mal vista. Só que as pessoas fazem ressalvas quando isso acontece a uma criança. Isso é estranho, ao considerar que a criança é menor e mais fraca. Buscar a educação respeitosa exige que desenterremos os fatos desagradáveis e cruéis sobre nós mesmos, o que faz com que o processo seja doloroso.

Pode ser difícil assumir a violência porque ela é muito naturalizada. Isso traz inseguranças quando a situação foge do controle. Para a autora, o sinal de uma boa educação é mostrado quando o filho, ao fazer uma má escolha, decide “correr para a mãe”, em vez de “correr da mãe”.

Seres humanos em desenvolvimento

A infância dos seres humanos é explicada por nossa necessidade de errar várias vezes até termos chances de sobreviver. Se observar uma criança, vai perceber que ela costuma repetir ações simples, como encaixar uma peça em um brinquedo. Isso acontece porque há a necessidade de repetição para o aprendizado.

A infância foi feita justamente para errar. Se punirmos as crianças apenas pelos erros, ignoramos o fato de que essa é sua natureza. Para a neurologia, o cérebro só fica maduro por volta dos 25 anos. Todos esses anos são dedicados ao aprendizado e ao erro. Só que temos uma visão distorcida, com expectativas irreais, de como as crianças precisam ser.

O incômodo pessoal do adulto faz com que erre ao tentar controlar os comportamentos adequados à idade dos filhos. Se uma criança faz birra, isso se deve à sua falta natural de habilidade emocional. É um pedido de ajuda, frequentemente ignorado ou reprimido pelos pais. Castigamos pela falta natural de maturidade, fruto de nosso “adultismo”.

Adultismo

Uma boa orientação para reagir ao comportamento de uma criança é se imaginar sendo tratado por alguém cuja admiração você nutre. Os adultos costumam usar o fato de serem maiores e mais fortes para coagir os filhos. A autora chama esse hábito de adultismo. Isso é paradoxal, já que a pessoa mais madura da relação recorre a recursos primitivos, como a violência e o medo.

O erro do adultismo é recompensar as crianças para que sejam quietas e depois exigir que se tornem adultos corajosos e opinadores. A conta não fecha. Antes de agir com um filho, vale se perguntar o que você pensaria se outro adulto lhe tratasse da mesma forma que você trata a criança.

Se você derrubasse um copo de suco, se sentiria bem ao levar uma bronca? Se caísse e se machucasse, se sentiria bem caso alguém mandasse você se levantar logo e dissesse que não foi nada? É errado se aproveitar da vulnerabilidade das crianças para fazer com que elas ajam de forma que dê menos trabalho para os adultos.

Obediência versus respeito

Para a autora, quem exige obediência conquista a submissão, mas não o respeito. A exigência deturpa o pertencimento natural da criança, colocando o adulto acima dela. É importante incentivar um senso de responsabilidade em vez do medo. Assim, as crianças criam consciência do que apoiam e do que se opõem,  tornando-se mais críticas.

Afinal, um filho que nos obedece não necessariamente nos admira. Só que não sabemos o que é respeito de verdade porque não o recebemos. O primeiro passo é ser respeitoso para colher isso de volta. Você não pode exigir, por exemplo, que uma criança de dois anos fique quieta esperando em uma fila porque ela simplesmente não tem maturidade neurológica para fazer isso ainda.

Por isso, um ato respeitoso é compreender e distrair o filho com brincadeiras para que a experiência seja mais suportável. O respeito também se mostra quando não colocamos nossas necessidades na frente da dos filhos. Por exemplo, quando falamos para uma criança parar de chorar simplesmente porque o choro incomoda.

A criança e o mau comportamento

A autora acredita que não faz sentido fazer com que uma criança se sinta mal para estimulá-la a se comportar melhor. A origem do conceito de “mau comportamento” aparece nas crenças primitivas de que a alma dos filhos precisa ser salva, extinguindo tudo o que há de “diabólico”. Nesse caso, as crianças seriam naturalmente defeituosas e precisariam ser corrigidas pelos cuidadores.

Muitos pais ainda têm o hábito de olhar para os filhos como se fossem igualmente adultos, só que com más intenções. A neurociência mostra que os desafios que as crianças impõem se relacionam com seu amadurecimento. A birra, por exemplo, não é o momento de entrar em contato com a parte lógica do cérebro infantil.

O que a criança precisa, segundo a ciência, é de um adulto acolhedor, paciente e emocionalmente disponível. O problema é que muitos adultos se sentem desconfortáveis e tentam calar o filho. Isso até pode encerrar a birra, mas a um preço alto. Do ponto de vista neurocientífico, a sensação de segurança é o que leva o sistema nervoso à tranquilidade.  

Limites

Já passamos da metade do microbook e a autora mostra como o objetivo da criação é trazer compreensão e acolhimento em vez de inspirar medo e obediência. Só que isso pode confundir algumas pessoas, por causa da necessidade de estabelecer limites. A proposta da educação respeitosa é o caminho do meio entre a permissividade e o autoritarismo.

Há sim limites, mas esses não são estabelecidos via adultismo. Na educação respeitosa, não há ameaças. Em vez disso, há um convite, com as razões bem explicadas. A dificuldade aparece na hora em que o adulto é contrariado. Por isso, a autora acredita que uma boa educação se revela no comportamento dos pais, não no dos filhos.

A reclamação é um direito da criança e algo natural para sua constituição neurológica. É adultismo desejar que uma criança não faça objeção quando algo que gosta é tirado dela. O papel dos adultos é ajudar o filho a lidar com essas frustrações. Assim, o desafio é lidar com a objeção infantil sem se sentir afrontado.

Acolhimento

Não há problema em ser uma mãe ou um pai imperfeito. Os filhos não precisam de perfeição, mas de conexão. Às vezes, uma criança vai falar algo unicamente para pôr para fora seus sentimentos e desabafar. Uma forma de receber essa mensagem bem é colocar o ouvido à disposição, sem atropelar o discurso do filho com julgamentos ou críticas.

Essa é a prática do acolhimento. Só que a necessidade de desabafar pode ser mais difícil de perceber nas crianças. Em alguns casos, vêm disfarçada de choro ou birra. O ideal é acolher primeiro e, apenas depois, procurar uma solução. Quando os adultos acolhem após o desconforto, a criança começa a associar a etapa posterior ao bem-estar.

Com o tempo, passa a fazer essa recuperação emocional sozinha. Esse processo não é rápido e pode levar a infância toda. Sem esse movimento, podemos crescer nos sentindo desconfortáveis ao ter que lidar com sentimentos como raiva ou tristeza. Isso acontece porque não tivemos o acompanhamento dos adultos cuidadores ou o incentivo para experimentar emoções de forma livre.

O que é violência?

Para a autora, os filhos não devem fazer esforço para conquistar o amor dos pais. Em vez disso, devem descansar nele. A sabedoria convencional diz que a violência se resume às agressões físicas. Ainda assim, existe um consenso que diz que ferir psicologicamente alguém também é ser violento. O problema é que o segundo tipo pode ser velado, invisível e inconsciente.

Crianças que passam por esse tipo de sofrimento têm chances altas de desenvolver transtornos como depressão ou até abusar de substâncias que causam dependência. Por isso, o ambiente de crescimento infantil precisa ser seguro, emocionalmente saudável, nutritivo e afetivo. Um exemplo é o da negligência emocional, quando rejeitamos os sentimentos da criança.

Isso faz com que naveguem pelo que sentem sem o devido apoio emocional. Acolher o que as crianças sentem, independentemente dos sentimentos, é uma forma de promover saúde. A relação precisa de uma confiança-base, para que o filho sinta que vai ser acolhido em situações de dificuldade. É preciso enxergar as nuances e o caminho turvo da violência.

Autenticidade e Apego

Criticar excessivamente os filhos não faz com que deixem de nos amar, mas faz com que deixem de se amar. Para a autora, existem dois ingredientes para crescer com saúde emocional. São o apego e a autenticidade. O primeiro é a conexão fundamental para os seres humanos. É o que faz com que os adultos empatizem com as crianças e, por isso, forneçam carinho, alimento, cuidado e segurança. 

Já o segundo, diz respeito à essência, o verdadeiro eu. A saúde emocional depende de nos alinharmos com o que somos de fato. O problema é que não temos espaço para autenticidade na infância. Se demonstrássemos raiva, por exemplo, o sentimento era rapidamente reprovado pelos adultos cuidadores. 

Crianças “falantes demais” ou “tímidas demais” são constrangidas por serem o que são. O recado para os filhos é que manifestar autenticamente sentimentos é uma atividade de risco. Para não pôr em risco o apego e o afeto dos pais, a criança suprime o que sente e mina sua autenticidade. Assim, cria um falso eu.

Trauma

O objetivo da educação respeitosa é criar filhos que não vão precisar se recuperar da própria infância. Com uma criação empática, é possível criar uma sociedade com filhos cada vez menos machucados. Há muito o que se pode fazer para não causar traumas nas crianças. Filhos que não se sentem compreendidos e amados também se sentem emocionalmente feridos. 

O trauma é justamente uma ferida emocional não cicatrizada. A questão é que apenas passar por uma experiência emocionalmente complicada não é necessariamente algo traumático. Se torna um trauma quando isso acontece sem o suporte emocional e acolhimento adequados. O erro é quando a criança é deixada por conta própria.

Normalmente, uma pessoa que se sente traumatizada não tem para quem contar ou em quem buscar apoio. Embora nem sempre seja possível evitar eventos ruins, podemos oferecer disponibilidade emocional. É importante lembrar que os sentimentos são sempre válidos e se dispor a acolher sem julgar. Deixe que o choro flua ou que a raiva se coloque para fora. Dê tempo para o evento se cicatrizar adequadamente.

Quem cuida do adulto?

Quando conhecemos os erros do adultismo, também vemos um atalho para nosso próprio crescimento emocional. O início de uma relação mais saudável está em uma mudança de perspectiva a partir dos adultos. Só que, para isso, é preciso que consideremos nossa própria história. Adultos pouco acolhedores costumam ter um histórico de não terem sido acolhidos quando precisaram.

Esse é o “trauma transgeracional”, que é passado ao longo das gerações. A educação respeitosa quebra esse ciclo. O processo é trabalhoso porque precisamos dar o que não recebemos. A autora esclarece que existem alguns caminhos para diminuir o estrago do trauma transgeracional. A terapia é um desses.

O acompanhamento de um psicólogo experiente pode ser poderoso e transformador. É preciso cuidarmos de nós para, consequentemente, cuidarmos das nossas crianças. Mas vale ter em mente que estamos aqui para reduzir danos, não para sermos perfeitos. Vamos pisar na bola e perder a paciência algumas vezes. Isso também está dentro do jogo. Essa mudança não acontece do dia para a noite. É um passinho de cada vez. 

Notas finais

A sabedoria convencional sobre educação nos faz minimizar a violência quando acontece com crianças e não reconhecê-las como seres humanos de igual valor. A autora revela como os princípios da educação respeitadora podem criar uma geração de pais e filhos melhores.

Dica do 12min

Investir em lidar com as dificuldades emocionais e crescer como adulto também pode ser um caminho para se tornar um educador melhor. Você pode conferir o microbook “Inteligência Emocional”, em que o autor conta o papel da inteligência emocional e o engano que as pessoas cometem ao presumir que só o QI importa

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Quem escreveu o livro?

Maya Eigenmann é educadora parental e pedagoga, sendo pós-graduanda em neurociência. A autora levanta a bandeira da quebra dos c... (Leia mais)

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